Vinho Elementar como Estratégia Comercial

A partir de 1982, na Universidade de Évora foram realizadas vinificações em pequeno volume (microvinificações de 5‑25 Litros) com castas monovarietais, com base num projecto de transferência de tecnologia da F. A. Rebzucht Geisenheim/PLANSEL. Desde a criação da adega experimental em Mitra, foram realizadas vinificações de diferentes tipos de vinho, nomeadamente brancos e rosés, embora com pouca intensidade aromática, assim como vinhos tintos com carácter complexo mas ligeiramente oxidados, originários da tecnologia de fermentação tradicional com temperatura até 30 °C. Com a introdução da novidade da microvinificação em ambiente controlado (18 °C) produziram‑se vinhos com maior intensidade aromática, totalmente desconhecidos no sul do país até esse tempo. Foram também vinificadas castas provenientes do Norte (Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca e Alfrocheiro), colhidas e transportadas pela PLANSEL até às instalações de Mitra/Évora. Os resultados dos ensaios efectuados foram sempre apresentados aos produtores interessados.

O primeiro vinho tinto produzido com a tecnologia de fermentação fria do Alentejo e a ser comercializados nos anos 80 foi o “Esporão Branco”, um vinho elementar da casta Síria (nesse tempo ainda designada por Roupeiro), sendo produzido na adega experimental da Universidade de Évora, sendo um enorme sucesso nos anos 90. O primeiro lote com 20.000 litros foi fermentado experimentalmente nas câmaras de frio da PLANSEL, com vista a um teste de mercado. Rapidamente outros viticultores, associações e adegas adoptaram esta visão moderna, onde provaram e analisaram os vinhos experimentais produzidos nas adegas de Mitra ou na PLANSEL, orientando assim as suas plantações com castas de maior expressão qualitativa.

Com esta estratégia, a falta de informação enológica na escolha varietal já não era um problema, embora neste tempo ainda fossem confrontados com a moda das castas francesas para a produção de vinhos. Uma nova geração de enólogos (Portugal Ramos, J. de Almeida, entre outros) dedicaram‑se às castas autóctones e o vinho elementar ganhou, pela primeira vez, prioridade na viticultura.

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