Tempranillo (ES) / Aragonez (PT)

Variedade: Tinta | Categoria I | Portugal/Espanha

Ficha da Casta

Tempranillo

Aragonez

Origem da casta: Espanha. Algumas bibliografias referem Astúrias (?), onde hoje praticamente não existe (Chomé: 257); outras referem Valdepeñas ou Rioja. A casta já foi referida por Herrera (1513) na antiga Castilla y León, com a denominação de Tinto Aragonés. Em Portugal não se encontra nas descrições de Lobo (1790) nem de Fonsecca (1790), mas Gyrão (1822) conhece a casta no Douro. Vila Maior considera a casta importada de Espanha (Aragão), pela Quinta da Romaneira, nesse tempo ainda não denominada Tinta Roriz, sinónimo actualmente habitual nesta região.

Região de maior expansão: Douro (6.000 ha). Hoje igualmente no Alentejo (6.000 ha) onde, há um século atrás, só existia em Portalegre (Vila Maior, 1875). Também em Espanha (214.341 ha), França (2.500 ha), Argentina (12.000 ha), EUA (250 ha) e Austrália (312 ha).

Sinónimos oficiais (nacional e OIV): Tinta Roriz (P, ZA), Tempranillo (Au, ES, Fr, Gr. Il, Ma), Cencibel (ES), Tinta Fina (ES), Ull de Liebre (ES), Valdepeñas (EUA).

Sinónimos históricos e regionais: Tinta Santiago (Palmela, Setúbal).

Homónimos: Tinta Aragonesa (ES).

Superfície vitícola actual: Espanha, 214.341 ha; Portugal, 23.500 ha

Utilização actual a nível nacional: 24,2%.

Tendência de desenvolvimento: Descendente.

Intravariabilidade varietal da produção: Intermédia.

Qualidade do material vegetativo: Material policlonal de conservação da intravariabilidade da RNSV; clones 106, 110, 111, 114 e 117 JBP (Plansel); clones 54-60 EAN. Em Espanha: várias dezenas de clones certificados, especialmente em La Rioja e Castilla y León, mas também noutras regiões; alguns exemplos importantes são os clones RJ-43 e RJ-51.

VVMD5 VVMD7 VVMD27 VVS2 ZAG62 ZAG79
Alelo1 Alelo2 Alelo1 Alelo2 Alelo1 Alelo2 Alelo1 Alelo2 Alelo1 Alelo2 Alelo1 Alelo2
232 232 237 251 179 179 140 142 195 199 245 249

Vinho de Qualidade DOC: Espanha: esta casta esta classificada na maioria das regiões D.O. (no total de 55 regiões). Portugal: esta casta esta classificada em 18 regiões D.O.C..

Extremidade do ramo jovem: Aberta, com orla carmim de intensidade média; densidade média a forte, de pêlos prostrados. (No Douro, Magalhães 2006: verde claro, de aspecto clorótico após abrolhamento, em Primaveiras frias, recuperado depois a cor verde normal).

Folha jovem: Amarelada com tons bronzeados, página inferior com média a forte densidade de pêlos prostrados e de pêlos erectos.

Flor: Hermafrodita.

Pâmpano: Estriado vermelho, com gomos verdes.

Folha adulta: Grande, pentagonal, com cinco lóbulos, o central bem desenvolvido; limbo verde-médio, irregular, ligeiramente bolhoso e enrugado, página inferior com média densidade de pêlos prostrados e forte densidade de pêlos erectos; dentes grandes e convexos; seio peciolar e seios laterais fechados, com base em U.

Cacho: Médio, cilindro-cónico, medianamente compacto, pedúnculo de comprimento médio.

Bago: Arredondado, médio e negro-azul: película de espessura média, polpa de consistência média.

Sarmento: Castanho-amarelado.

Abrolhamento: Época média, 9 dias após a Castelão.

Floração: Época média, 6 dias após Castelão.

Pintor: Médio, 2 dias antes da Castelão.

Maturação: Época média (precoce no Douro) em simultâneo com a Castelão.

Vigor: Médio-elevado.

Porte (tropia): Erecto e semi-erecto.

Entrenós: Longo e regular.

Tendência para o desenvolvimento de netas: Baixa, apenas em casos de varas muito vigorosas.

Rebentação múltipla: 32% dos gomos.

Índice de fertilidade: Médio, cerca de 1,75 inflorescências por gomo abrolhado (Araújo, 1982). (Variam com o porta-enxerto: 99 R = 1,75; 1103 P = 1,36).

Produtividade: Índice 338. Alta, mas muito variável com o tipo de solo, o clima e o clone: 8-18 t/ha (com 1103 P = 8 t/ha, com 99 R até 18 t/ha). Valores RNSV: 2,586 kg/pl (média de, no mínimo, 40 clones, registada em Reguengos de Monseraz, durante 6 anos).

Estabilidade da produção (diferentes anos e localidades): Aneira.

Homogeneidade de produção (entre as plantas): Elevada.

Índice de Winkler (somatório de temperaturas activas): 1.500 h acima de 10° C com 11 t/ha de produção (Montemor-o-Novo).

Producção recomendada: Menos de 6.000 l/ha.

Sensibilidade abiótica: Suporta carência hídrica; sensível no Alentejo ao escaldão das folhas com insolação intensa, no Douro sensível a carência de Boro, especialmente no caso de porta-enxerto 1103 P; sensível ao vento.

Sensibilidade criptogâmica: Susceptível ao Oídio e ao Míldio, à Escoriose, à Esca e à Eutypia.

Estado sanitário (sistémico) antes da selecção: 3% GLRaV1, 18% GLRaV3, 30 GVA, 5% RRV, < 50% RSP.

Sensibilidade a parasitas: Sensível à Cigarrinha Verde.

Tamanho do cacho: Médio a grande (200-500 g conforme clone e ambiente).

Compactação do cacho: Geralmente pouco compacto.

Bago: Médio com resistência ao destacamento (1,5-2,2 g por bago).

Película: Média a espessa, com alguma resistência ao calor.

Nº de graínhas: Médio, 1,6-2,7 por bago. Potencial agronómico.

Sistema de condução: Qualquer; perigo de quebra das varas na operação da empa.

Solo favorável para obter qualidade: Prefere solos profundos, bem drenados, com reduzida disponibilidade hídrica; elevado teor de água provoca atrasos no pintor e redução de qualidade.

Clima favorável: Seco e muito quente, para obter qualidade.

Compasso: Todos os compassos tradicionais, sem problemas.

Porta-enxertos: Não é conhecida incompabilidade com os porta-enxertos habituais da região. No caso de procura de qualidade, recomendam-se porta-enxertos pouco vigorosos.

Não recomendável: Rupestris du Lot.

Desavinho/Bagoinha: Afectado pelas condições climáticas no período da floração.

Conservação do cacho após maturação: Média-boa.

Protecção contra ataques de pássaros: Deve ser protegida.

Aptidão para vindima mecânica: No caso da vindima em Agosto, deverá fazer-se com baixa temperatura, por ex. vindimando à noite. No caso de excesso de produção, pode haver problemas de oxidação por esmagamento dos bagos.

Tipo de vinho: Vinho de mesa de consumo corrente e de qualidade, vinho generoso, vinho rosado.

Grau alcoólico provável do mosto: Elevado (13-14 vol.% álcool). Valores RNSV: 13,28% vol. (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Reguengos, durante 3 anos).

Acidez natural: Médio a baixo (4-5 g/l de acidez total; 1,6 g de acidez málica; 3,8 g de acidez tartárica). Valores RNSV: 2,86 g/pl (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Reguengos, durante 3 anos).

Autocianinas totais: 669,8 mg/l. Valores RNSV: 669, 26 mg/l (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Reguengos, durante 3 anos).

Índice de polifenóis totais (280nm) do mosto: 43,9. Valores RNSV: 43,95 (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Reguengos, durante 3 anos).

Sensibilidade do mosto à oxidação: Pouca.

Intensidade da cor: Elevada no mosto, perigo de perda na fermentação (conforme clone, 8-14).

Tonalidade: 0,6-0,8 conforme clones.

Taninos: Monomérico 10 mg/l; Oligom. 100 mg/l; Polim. 570 mg/l.

Procianidinas oligomeras: B1:11-44,7 mg/l; B2:7,7-21,0 mg/l; T2:1-10 mg/l.

Índice de polifenóis totais (280nm) do vinho: 19-75 (Polifenóis totais: 1712-2729mg/l)

Sensibilidade do vinho à oxidação: Pouca, se tiver suficiente álcool.

Análise laboratorial dos aromas: Compostos precursores do aroma – Terpenóides ligados totais (Análise Alentejo 1997, 1998), 202 μg/l (97), 199 μg/l (98). Benzenóides totais, 1.034 μg/l (97), 588 μg/l (98). Norisoprenóides, 821 μg/l (97), 363 μg/l (98). Em terpenóides livres (Douro, análise de 1999) tem concentrações (100 μg/l) responsáveis pelos aromas florais. Correlacionando os dados sensoriais, são os menos classificados (comparação de castas tintas do Douro) em floral, fruto vermelho, balsâmico e resinoso. O mais relevante factor da qualidade é o nível de produção (no caso de 5 t/ha, o índice de polifenóis é de 22,5 μg/l; no caso de 18 t/ha, baixa até 8 μg/l).

Capacidade de envelhecimento do vinho: Potencial elevado. Boa aptidão para envelhecimento em madeira.

Recomendação para lote: Tourigas, Tinta Barroca, Tinto Cão, Trincadeira, Alicante Bouschet.

Potencial para vinho elementar: Boa capacidade.

Caracterização habitual do vinho: Os vinhos dela obtidos são bem providos de matéria corante, aromaticamente intensos e complexos. Desenvolvem inicialmente aromas de ameixas e frutos silvestres, que se tornam mais complexos com a evolução. Macios ao sabor, os vinhos elementares de Aragonez possuem algum acídulo, são estruturados, taninosos e bastante complexos. Apresentam grandes qualidades organolépticas que contribuem para a grande valorização desta variedade (Laureano, 1999).

Qualidade do vinho: Casta polémica, devido à sua capacidade produtiva. Pode produzir vinhos bastante fracos, mas com controlo do rendimento produz alguns dos melhores vinhos da Península Ibérica. Devido à casta ser aneira, esta situação pode ocorrer, no mesmo campo, em anos diferentes.

Particularidade da casta: Em ambos os países, é casta de referência.

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