Trincadeira (PT)

Variedade: Tinta | Categoria I | Portugal

Ficha da Casta

Trincadeira

Origem da casta: Em 1711 é referida por Alarte. Lobo (1790) conhece a casta nas Beiras. Vila Maior (1875) classifica-a como casta velha, distribuída do Douro até ao Ribatejo e Alentejo.

Região de maior expansão: Alentejo, dispersa em todas as zonas quentes do país.

Sinónimos oficiais (nacional e OIV): Tinta Amarela (P, AU).

Sinónimos históricos e regionais: Trincadeira Preta (na generalidade), Mortágua (Torres Vedras), Preto Martinho (Arruda), Espadeiro, Murteira (Setúbal), Castiço (Aveiras), Crato Preto (Algarve); por engano, Castelão (Cova da Beira).

Homónimos: Ainda existe Trincadeira-das-Pratas (n.º oficial 319) e Trincadeira-Branca (n.º oficial 318).

Superfície vitícola actual: 16.200 ha.

Utilização actual a nível nacional: 10,5%.

Tendência de desenvolvimento: Descendente.

Intravariabilidade varietal da produção: Média-baixa.

Qualidade do material vegetativo: Material policlonal RNSV, clones certificados
10-15 EAN, 6-8 e 109 JBP.

VVMD5 VVMD7 VVMD27 VrZag62 VrZag79 VVS2
Alelo1 Alelo2 Alelo1 Alelo2 Alelo1 Alelo2 Alelo1 Alelo2 Alelo1 Alelo2 Alelo1 Alelo2
234 238 235 245 181 185 188 204 247 251 135 153

Vinho de Qualidade DOC: «Porto», «Douro» «Távora-Varosa».

Vinho de qualidade IPR: «Chaves», «Valpaços», «Planalto Mirandês».

Vinho regional: «Minho», «Trás-os-Montes», «Beiras», «Estremadura», «Ribatejo», «Terras do Sado», «Alentejo», «Algarve».

Extremidade do ramo jovem: Aberta, branca, com média pigmentação antociânica generalizada.

Folha jovem: Amarela, média pilosidade aplicada.

Flor: Hermafrodita.

Pâmpano: Nós e entrenós com estrias vermelhas, verde em ambas as faces dos nós e entrenós. Gavinhas médias (curtas).

Folha adulta: Média, pentagonal, com cinco lóbulos; verde médio; perfil irregular de médio empolamento e ligeiro enrugamento. Dentes médios tão largos como compridos e convexo-côncavos; seio peciolar de lóbulos sobrepostos, em V; seios laterais superiores abertos em V, página inferior com média densidade de pêlos prostrados. Pecíolo mais curto que a nervura principal mediana.

Cacho: Médio, frouxo por vezes medianamente compacto. Pedúnculo médio, de média lenhificação.

Bago: Médio, ligeiramente achatado; negro-azul; película de espessura fina e medianamente pruinada; polpa não corada, mole e suculenta; pedicelo curto.

Sarmento: Castanho amarelado.

Abrolhamento: 3 dias após a Castelão.

Floração: 1 dia após Castelão.

Pintor: 4 dias antes da Castelão.

Maturação: No Douro, maturação precoce, 15 dias antes da Castelão.

Vigor: Elevado.

Porte (tropia): Semi-erecto, algumas varas horizontais grandes (plagiotropos).

Entrenós: Médios, medianamente regulares.

Tendência para o desenvolvimento de netas: Pouca.

Rebentação múltipla: Reduzida (17% dos gomos).

Índice de fertilidade: Em média, no Alentejo (Araújo 1982) = 1,32; no Douro, varas no 1.º gomo = 1,0; varas no 2.º gomo = 1,4; varas no 3.º gomo = 1,68 inflorescências por gomo abrolhado.

Produtividade: Elevada. Índice 314 (12 -20 t/ha) Valores RNSV: 1,43 kg/l (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Almeirim, durante 2 anos).

Estabilidade da produção (diferentes anos e localidades): Após anos de extrema produtividade, baixa a produção para o enologicamente desejado.

Homogeneidade de produção (entre as plantas): Uniforme.

Índice de Winkler (somatório de temperaturas activas): 1.557 h acima de 10° C com 11 t/ha de produção (Montemor-o-Novo).

Producção recomendada: 6.000 l/ha.

Sensibilidade abiótica: Casta bastante estável aos factores abióticos.

Sensibilidade criptogâmica: Muito sensível à Botritis no cacho verde e ao Oídio; menos sensível ao Míldio.

Estado sanitário (sistémico) antes da selecção: 40% GLRaV1, 45% GLRaV3, 15% GLRaV 2+6, 30% GFkV, > 50% RSPV.

Sensibilidade a parasitas: Cigarrinha Verde, acariose.

Tamanho do cacho: Médio/grande (210-300 g), conforme clone, cónico e alado.

Compactação do cacho: Compacto.

Bago: Médio/pequeno (1,2-2,2 g), segundo clone, fácil de destacar.

Película: Pouco espessa, frágil.

Nº de graínhas: 1,4-2,5 por bago, conforme clone.

Sistema de condução: A condução da sebe não é fácil, exige sebes muito equilibradas, com uma boa relação entre a área foliar exposta e a produção, para garantir qualidade. Com vara longa há perigo de excesso de produção. Respeitando estes critérios poderá usar-se qualquer tipo de poda. Recomenda-se o cordão bilateral com uma vara longa na parte terminal, para compensar a produção no caso de ser necessária poda verde.

Solo favorável para obter qualidade: De baixa fertilidade, textura fraca/arenosa, seco ou bem drenado.

Clima favorável: Quente, com suficientes horas de insolação. No caso de excesso de calor, há perigo de secagem e degradação de bagos.

Compasso: Todos os intervalos tradicionais possíveis, contanto que o equilíbrio da produção com o vigor da planta seja garantido.

Porta-enxertos: De baixo vigor e ciclo curto.

Desavinho/Bagoinha: Pouco susceptível.

Conservação do cacho após maturação: Pouca resistência, nomeadamente às podridões.

Protecção contra ataques de pássaros: Necessária, pois é muito atacada.

Aptidão para vindima mecânica: Recomenda-se, pois os bagos destacam se com muita frequência na fase final da maturação.

Tipo de vinho: Vinho de qualidade, vinho do Porto.

Grau alcoólico provável do mosto: Elevado (12,5-14% vol. álcool) com níveis de produção abaixo de 8 t/ha. Valores RNSV: 12,99% vol. (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Cartaxo, durante 5 anos).

Acidez natural: Média (4,5-5,5 g/l de acidez tartárica). Valores RNSV: 3,56 g/l (média de, no mínimo, 40 cultivares, Cartaxo, durante 5 anos).

Autocianinas totais: 1950-1350 mg/l (Évora). Valores RNSV: 751,53 mg/l (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Cartaxo, durante 5 anos).

Índice de polifenóis totais (280nm) do mosto: 18-40, conforme clones. Valores RNSV: 30,01 (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Cartaxo, durante 5 anos).

Sensibilidade do mosto à oxidação: Sensível.

Intensidade da cor: Granada intenso (na película 20-50), varia conforme clones.

Tonalidade: 5-15, conforme clones.

Procianidinas oligomeras: B1: 39,0-96,6; B2 9,2-18,1 mg/l; T2: 1,4-14,7 mg/l.

Índice de polifenóis totais (280nm) do vinho: 1400-2350mg de catequina/l.

Sensibilidade do vinho à oxidação: Medianamente sensível.

Análise laboratorial dos aromas: Compostos precursores do aroma – Aromas ligados (Alentejo 1998 e 1997); Terpenos totais: 114 μg/l (97), 170 μg/l (98); Benzenóides totais: 681 μg/l (97), 828 μg/l (98); Norisoprenóides totais: 210 μg/l (97), 406 μg/l (98). A análise dos aromas livres (Douro 1999) comprova um elevado nível da soma de terpenóides (100 μg/l), especialmente do Linalol (45 μg/l) mas também da ß-Damascenona (3 μg/l).

Capacidade de envelhecimento do vinho: No caso de vinho de elevada qualidade, muito boa, aptidão para envelhecimento em madeira.

Recomendação para lote: Castelão, Aragonez, Alicante Bouschet e Touriga Franca.

Potencial para vinho elementar: Boa aptidão, no caso de ambiente óptimo, ou seja, boa maturação e estado sanitário irrepreensível na chegada à adega.

Caracterização habitual do vinho: Os vinhos obtidos possuem uma cor granada intensa, quando jovens, e no aroma são perceptíveis notas de alguma ameixa passa. Predomina um aroma herbáceo associado a especiarias e alguma pimenta. Com a evolução, desenvolve aromas de compotas e uma enorme complexidade e finura. Na boca, os vinhos de Trincadeira são macios, com algum acídulo, mostrando notas muito semelhantes ao aroma (Laureano, 1999).

Qualidade do vinho: Depende muito do seu ambiente óptimo, podendo produzir uvas para vinho excelentes; mas colocada em condições edafo-climáticas menos favoráveis (humidade, período de maturação reduzido) pode dar vinhos sem interesse.

Particularidade da casta: Reconhece-se esta casta pela cor da folha, verde muito brilhante. Seio peciolar fechado, com os lóbulos muito sobrepostos.

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