O Prosperar da Viticultura Ibérica

Espanha, nos anos 90, desenvolveu‑se e tornou‑se o país com maior expansão da cultura de vinha, com 1.224 ha (1996). Isso corresponde a um quarto da superfície vitícola total da UE. Mas a viticultura encontra‑se maioritariamente em solos pobres e sem possibilidade de rega. Os solos ricos são reservados para outras culturas agrícolas, como os cereais, oliveiras e citrinos. Nas 50 regiões demarcadas para produção de vinho de qualidade, encontram‑se mais de 55% de toda a área de vinha.

Nas castas, domina a variedade regional Airen (La Mancha), com 36%, seguida pela Garnacha com 14 %, e ainda pela Monastrell e Bobal, com 8% cada. Em muitas das castas consideradas neste livro como prioridade, ainda diverge acentuadamente o ranking qualitativo, face à superfície de implantação. Impressionante é a importância da uva de mesa em Espanha, com 40.000 ha, enquanto Portugal importa a maioria de Espanha.

O vinho de Jerez (Sherry), bem como as castas que lhe dão origem, Palomino, Pedro Ximénez e Zalema, ganharam, nos mercados internacionais, uma importância comparável à do vinho do Porto; na Rioja, com as castas Aragonez, Garnacha e Cariñena; as Cava, com as castas Xarello, Macabeo, Parellada; o Ribera del Duero, com as castas Tempranillo, Cabernet Sauvignon e Merlot, mais tarde ainda com as castas brancas de Rueda, Verdejo e Sauvignon Branco; nas Rías Baixas, o Alvarinho; em Castilla – La Mancha consegue‑se produzir, a partir da variedade Airén, um vinho competitivo para a produção‑base de “Sekt” na Alemanha e vinho de mesa. Todos estes vinhos, devido a boa relação preço‑qualidade, ganharam rapidamente grande importância nos mercados europeus.

Núria Puig, 2000: 243) analisou a situação vitivinícola em Espanha. O tema principal foi a produção excessiva e a reacção dos países mediterrâneos face à destilação. O Office Internacional du Vin, fundado em 1924 em Paris, chamou a atenção para a situação da destilação e teve uma visão contrária, a favor da promoção do vinho de qualidade. Ao mesmo tempo, devido à “idade de ouro” com a “garantia do bom fim”, a superfície vitícola crescera acentuadamente. O problema foi esquecido durante os anos da Guerra Mundial e da Guerra Civil, para depois crescer acentuadamente. A queda do consumo interno, sobretudo de aguardente e da exportação, acelerou as dificuldades. Em Espanha surgiu um conflito entre a indústria do vinho e a administração pública (Puig, 2000: 245).

O governo espanhol dedicou‑se seriamente ao problema e à delimitação de regiões de qualidade. Promoveu a reorientação dos institutos vitícolas para a produção de vinho de qualidade, incentivou a sua produção e a segmentação do mercado por diferenciação dos tipos de vinhos, bem como um rígido controlo da limitação de produção. Foram tomadas medidas importantes. Seguiu‑se uma legislação a favor da intensificação do consumo e, finalmente, foi incentivada a exportação como solução para compensar a redução de consumo no mercado nacional. Foram grandes vantagens a França ter deixado de importar vinhos dos países do Magreb e, por último, a abertura da União Europeia ao vinho de países terceiros. A Espanha aproveitou para entrar na exportação com uma boa relação preço‑qualidade.

As casas vitivinícolas protagonistas e as marcas de alta qualidade, como Torres, Codorníu, Freixenet ou Marqués de Rical e muitas outras, do Jerez ou da Rioja, atingiram fama internacional em virtude da sua qualidade. Devido à investigação interna, estas casas encontraram as castas e as tecnologias da vinha e do vinho adequadas a conseguir produtos de qualidade. A partir do final dos anos 70, iniciou‑se o milagre da exportação. Neste sentido, surge uma nova esperança com a revitalização do Golfo do México, iniciada nos anos 1867‑1872. Depois, a Alemanha com o seu insaturável mercado de vinho‑base para espumante e de vinho tinto para dar cor aos seus claretes, e ainda o aparecimento da moda bodega, derivada do turismo alemão em Espanha. O início destas exportações foi o motor de arranque, entre outros factores, para o desenvolvimento da exportação a nível global.

 

Portugal. Continuou menos dinâmico, devido às confusões provocadas pelo processo da democratização e à queda do milagre da exportação dos vinhos rosados. Com a entrada na UE, nos primeiros anos da década de 80, abriram‑se as fronteiras; logo a seguir à conferência do GATT no Uruguai (1994) e depois o acordo de Marraquexe, eliminaram‑se os últimos impedimentos à exportação.

Com a integração definitiva na CE, em meados dos anos 80, o pensamento entre o Estado e o sector privado alterou‑se, a favor da actividade profissional. Sobreviveram as velhas estruturas, tais como a perseverante estrutura administrativa, e ainda muitas personalidades privadas com esquemas antigos de pensamento. Assim, não foi possível sonhar com o milagre. De referir que o sector profissional, especialmente a agricultura, continuou a produzir para uma procura com preços e contingentes garantidos, o que tornou difícil a compreensão das regras do mercado livre.

No início, também a UE seguiu o erro fatal da “garantia do bom fim” dos anteriores estados membros. O viticultor, sem necessidade de responder à difícil exigência da qualidade, e objecto de um plano concertado, ligou‑se sempre à quantidade do vinho produzido, com as consequências acima descritas.

Aos países sem viticultura própria, especialmente Inglaterra, Holanda e Suécia, não foi possível explicar a contínua carga financeira do vinho no orçamento da UE. Medidas como a transferência de vinhas de solo fértil para zonas com solos mais pobres e a organização do cadastro vitícola foram as primeiras reacções, mas a Comissão teve de dar resposta aos pedidos dos viticultores com os armazéns cheios. Nessa fase, realizou‑se uma divisão do mercado em regiões de vinho de qualidade, com empresas de sucesso, como Borgonha, Bordéus, Champagne, Barrolo, Barbeira, Rioja, Vinho do Porto, Jerez e Cava, as quais, nalguns casos, conseguiram obter preços astronómicos.

Entretanto, as regiões ligadas ao volume apenas conseguiram preços ao nível da intervenção, com graves consequências para muitos produtores e cooperativas. Portugal sentiu gravemente esta subdivisão do mercado depois da perda das colónias, da drástica degradação do consumo nacional e da redução da exportação dos rosés. Enquanto numas regiões os preços atingidos eram muito elevados, não havia futuro para os vinhos de mesa, tipo destilação.

 

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